Entrevista com Loïc Ralet, autor de Halo: A Space Opera From Bungie

Willian Santos, 22 de dezembro de 2022

Com mais de 20 anos de história, o legado de Halo se espalhou por todo o mundo. Você com certeza já deve ter ouvido falar de várias histórias do desenvolvimento dos jogos da Bungie, geralmente por meio de entrevistas de desenvolvedores e documentários. Entretanto, a realidade é que estas histórias representam apenas a ponta do iceberg da franquia — há muito mais detalhes para serem reunidos e registrados. E se várias histórias de bastidores da Bungie em Halo fossem reveladas e documentadas em um único livro? Foi essa a intenção de Loïc Ralet ao escrever Halo: A Space Opera From Bungie, obra que conta a jornada da criação dos jogos da saga, além de outras histórias da desenvolvedora original da franquia.

Hoje, a Halo Project Brasil traz com exclusividade uma entrevista com o autor do livro, Loïc Ralet, junto a um olhar aprofundado nas revelações e surpresas que o livro pode guarda para os leitores.

O que é Halo: A Space Opera From Bungie?

Halo: A Space Opera From Bungie foi escrito pelo francês Loïc ‘Epyon’ Ralet e conta a história do desenvolvimento da franquia Halo, desde o início da Bungie nos anos 90, passando por sua concepção em 2001 e da produção dos jogos posteriores, até o lançamento de Halo Infinite, em 2021.

O autor nos contou que já foi jornalista da Jeux Video, um dos maiores site de games da França, onde conquistou uma boa reputação na comunidade francesa de Xbox. Em 2017, ele recebeu uma proposta da editora Third Editions para escrever um livro sobre Halo, e ele aceitou. Após a publicação da obra, Loïc foi contratado pela própria Bungie, onde trabalhou por menos de 2 anos. Atualmente, Loïc está na Xbox França.

“Eu queria dar à comunidade Halo algo que eu queria, como um fã de Halo. Tínhamos toneladas de artigos e vídeos e outras coisas por toda a internet, mas eram informações dispersas. Eu queria criar algo que pudesse ser independente, algo que até eu, o leitor, voltaria de vez em quando, quando precisasse de informações sobre Halo/Bungie.”, disse o autor.

Nas 454 páginas da obra, você estará imerso nos bastidores da Bungie e no processo criativo que ocorreu desde a fundação da desenvolvedora até os jogos da saga Halo. O autor nos conta que muitas pessoas que o leram contaram que se sentiram solitários após terminar a leitura. Isso porque eles se sentiram parte do time da Bungie.

“Muitas pessoas me disseram que depois que terminaram de ler, se sentiram um pouco solitárias porque, ao ler o livro, sentiram que faziam parte daquele time, daquela família.”

Entre algumas das histórias dos bastidores que poderemos encontrar no livro, o autor Loïc Ralet lista os primeiros jogos da Bungie antes de Halo, a aquisição por parte da Microsoft e o desenvolvimento de Halo: CE após o ataque terrorista do 11 de setembro, além de vários outros.

“Isso cobre muitas histórias diferentes, como você pode imaginar. Como estão Alex Seropian e Jason Jones, cofundadores da Bungie; os primeiros jogos da Bungie e como eles levaram a Halo; Microsoft comprando a Bungie e como todos eles tiveram que lidar com o 11 de setembro, quando eles estavam tentando lançar o Halo CE… e sim, eu poderia continuar e continuar. Gosto de pensar que o livro é realmente completo.”

Além de se aprofundar nos bastidores da franquia, A Space Opera From Bungie também retrata o lado humano das mentes por trás da franquia. Por isso, ele até mesmo volta para a década de 50 para discorrer sobre a infância de Martin O’Donnel, por exemplo.

“O livro cobre os processos que levaram à criação de todos os jogos Halo desenvolvidos pela Bungie, mas não só. Era importante para mim falar sobre as pessoas que fizeram esses jogos, quem eram, de onde vieram, o que fizeram antes. Portanto, é claro que o livro remonta ao início dos anos 1950, quando Martin O’Donnell nasceu; e realmente termina em 2011, quando Eric Osbourne se despediu da comunidade Halo”.

E falando no lendário compositor da trilha sonora original de Halo, o autor entrevistou diversos ex-desenvolvedores da saga, como o próprio Martin, Marcus Lehto — co-criador da franquia — e Alex Seropian — um dos fundadores da Bungie. O fruto destas entrevistas está no livro.

Obras como esta, que buscam biografar eventos históricos, grupos ou pessoas, possuem grande importância na história da humanidade. Isso porque elas contribuem para a preservação destas histórias, além de revelar fatos até então desconhecidos. O valor que elas trazem se mantém por anos e anos após sua publicação, preservando e documentando a história para as novas gerações.

Sobre a importância de documentar a história de Halo, Loïc dá ênfase ao seu objetivo de humanizar os desenvolvedores envolvidos com a franquia e fazer com que o trabalho deles fosse reconhecido e registrado no livro.

Claro que você sabe quem são Martin O’Donnell ou Bonnie Ross, e provavelmente leu algumas entrevistas com Quinn DelHoyo e talvez até Jaimse Griesemer, nos dias de hoje. Mas isso não é tudo. Há toneladas de pessoas trabalhando nesses jogos e eu queria que eles recebessem o reconhecimento que mereciam. Eu sei os nomes das centenas de pessoas que trabalharam em Halo em algum momento, e todas elas estão neste livro? Claro que não. Mas tentei humanizar o máximo possível, porque todos eles criaram algo que realmente me interessa e sou muito grato a eles por isso. Não é que eu só queria contar a história de como esses jogos foram feitos, eu queria principalmente contar as histórias das pessoas que fizeram esses jogos. E para esse tipo de escrita, documentar e registrar é absolutamente a chave.

O lançamento de Halo: A Space Opera From Bungie

Halo: A Space Opera From Bungie foi lançado originalmente em 2018, apenas em francês. Porém, em 15 de dezembro de 2022, o livro foi lançado em inglês. Apesar de não estar disponível em português, sabemos que muitos brasileiros adotaram o inglês como segunda língua e costumam ler, mesmo que ocasionalmente, alguns materiais nela. Atualmente, o livro está disponível na Amazon Brasileira nas versões físicas e digital. Quem sabe, um dia, talvez veremos a obra sendo lançada oficialmente no nosso país.

Eu realmente espero que vocês gostem. Eu coloquei minhas entranhas neste livro, quando saiu, fiquei muito orgulhoso dele.

Ainda sobre as pessoas que disseram sentir um sentimento de solidão ao terminar a leitura, Loïc disse:

“Passei um ano lendo essas pessoas, ouvindo-as, tendo suas vozes ecoando na minha cabeça. Contar suas histórias foi como viver esses tempos com eles. Meio que doeu acabar com essa história, haha. E, de alguma forma, fico feliz que algumas pessoas tenham sentido o mesmo quando o leram. Eu não quero te machucar de forma alguma haha, mas eu meio que espero que você sinta o mesmo. Isso significaria muito.”

Entrevista completa

Abaixo você pode conferir a entrevista na íntegra e se aprofundar ainda mais na visão e objetivos do autor com o livro Halo: A Space Opera From Bungie. Desde já, gostaríamos de agradecer a Loïc Ralet pela disponibilidade ao nos conceder esta entrevista.

1 – Como você se apresentaria para a comunidade brasileira de Halo?

“Bom dia ou boa noite a todos, meu nome é Loïc e… bem. Digamos que sou um grande fã de Halo desde o lançamento de Combat Evolved, em 2002 (o jogo foi lançado em março de 2002 aqui). Antes do lançamento de Halo 3, comecei a colecionar tudo que tivesse ligação com a Bungie e Halo, e o que quero dizer não são brinquedos, livros, etc (mesmo que eu colecionasse alguns desses também rs). Eu estava procurando entrevistas, recortes de imprensa, qualquer coisa que pudesse conter algum tipo de informação sobre Halo, Bungie. Eu queria saber tudo sobre o estúdio, como eles funcionam, quem são, o que cada indivíduo estava fazendo para o jogo, etc. Enquanto estou lendo, parece meio estranho, como se eu fosse algum tipo de stalker haha, mas Eu estava profundamente apaixonado. Naquela época eu queria trabalhar na indústria de videogames, talvez como jornalista e em 2013 finalmente aconteceu. Trabalhei no Jeuxvideo.com de 2013 a 2017; é basicamente o portal principal de videogames da França e o maior da Europa em número de visitantes/leitores. Meu principal domínio de especialização era o Xbox, porque, claro, sendo um fã do Halo, joguei principalmente no Xbox e com essa paixão pelo Halo, eu estava lendo uma tonelada de coisas relacionadas ao Xbox naquela época. Tornei-me o principal especialista em Xbox na França, entre todas as mídias francesas, ao mesmo tempo em que permaneci aquele cara do Halo/Bungie.

Em 2017, a Third Editions, uma editora francesa especializada em literatura de videogames, me perguntou se eu gostaria de escrever um livro sobre Halo. E, claro, concordei, porque pela primeira vez tive a oportunidade de usar aquela grande fonte de informação que coletei por quase uma década. Essa foi a oportunidade de a usar, mas também de a compartilhar, porque desde então guardei-a para mim e por vezes a utilizava para alguns dos meus artigos. Então sim, eu escrevi aquele livro, e alguns meses depois de seu lançamento, a Bungie me ofereceu um emprego. Trabalhei na Bungie por pouco menos de 2 anos, como gerente de comunidade para todos os Guardians (jogadores de Destiny) que falam francês. Isso foi muito insano, porque de repente eu estava trabalhando com as mesmas pessoas para quem havia contado as histórias em meu livro. Trabalhei em duas expansões, Beyond Light e The Witch Queen, e 7 ou 8 temporadas, não me lembro exatamente. Depois que saí da Bungie, aproveitei a vida com meu filho recém-nascido por um tempo e, desde o início do ano, trabalho para a Xbox France, como gerente editorial.”

2 – Quando e como surgiu a ideia de escrever Halo: A Space Opera da Bungie?

Já respondi a pergunta, pelo menos em parte, mas posso elaborar um pouco mais. Então, quando eu trabalhava como jornalista no Jeuxvideo.com (o site se chama “JV” agora, mudou… bastante desde que saí) (“Jeux video” significa “videogames” e mais aqui as pessoas tendem a usar a abreviação “JV” para falar sobre videogames), comecei a pensar em escrever um livro, talvez em algum momento. Nada foi realmente definido, eu apenas sabia que tinha essa quantidade enorme de documentos que realmente deveriam ser usados. A ideia era garantir que não se perdessem e que chegassem à comunidade Halo, pelo menos na França. Sou formado em História, por isso fiz faculdade, e sempre foi uma paixão. Portanto, sei como as fontes são importantes. Além disso, como você deve saber, a França realmente se importa com os livros. Existem muitos editores por aqui que trabalham com jornalistas ou simplesmente pessoas apaixonadas que levam a sério a escrita. Eles lançam dezenas de livros todos os anos. E não são apenas livros de arte ou guias, são realmente livros e ensaios sobre como um jogo de uma IP inteira foi construído, biografias e coisas mais filosóficas, baseadas em certos temas que você pode encontrar nos jogos.

De qualquer forma, essa é uma cena muito vívida aqui, a única coisa é que eu não conhecia ninguém nessa indústria de livros. Então eu realmente não sabia como começar. E em algum momento, alguém me perguntou no Twitter por que eu nunca escrevi um livro sobre Halo, e eles mencionaram diretamente a Third Editions e alguns de seus funcionários. Um deles, Mehdi, meio que brincou sobre isso, mas algumas semanas depois, ele me mandou uma mensagem pedindo para eu encontrá-lo durante a Japan Expo, um show que acontece todos os anos em Paris e é dedicado à cultura pop japonesa. Os editores de videogames japoneses, como Nintendo, Square Enix e outros, costumam ter estandes lá, então eu estava lá a trabalho, e a Third Editions, porque tem livros sobre videogames japoneses, ou até mangás/animes, tem um estande também.

Então, fiz uma pausa durante minha cobertura e encontrei Mehdi e a equipe da Third Editions em seu estande, e eles me ofereceram escrever um livro sobre Halo. Demorou algum tempo para que isso acontecesse, porque como jornalista eu tinha uma cláusula em meu contrato com Jeuxvideo.com que especificava que eles tinham direito exclusivo sobre minha escrita. Também tivemos que definir certas coisas, como o fato de eu não poder escrever sobre os jogos Halo atuais, por algumas razões éticas/deontológicas. Isso significaria que, por um lado, eu iria me aproximar das pessoas da 343 Industries, conversar com eles, tentar fazer com que respondessem minhas perguntas e outras coisas e, por outro lado, revisar seus jogos, cobrir as últimas notícias, etc. poderia ter sido suspeito, nossos leitores poderiam ter feito perguntas legítimas sobre minha integridade como jornalista. Então escolhemos nos ater à era da Bungie. Tudo isso aconteceu durante o verão de 2017. Em 23 de agosto de 2017, comecei oficialmente a trabalhar no livro.

3 – Que tipo de conteúdo e histórias de bastidores os leitores podem esperar do livro?

Esta é uma boa pergunta. Eu acho que isso realmente depende de quanto você gosta de Halo. Eu conheço um monte de fãs, em todo o mundo, que são realmente hardcore, e como eu antes, esses caras, eles apenas lêem tudo, eles compartilham informações entre eles etc. É muito louco ver o quão bem informados eles são, a maior parte do tempo, mesmo que sempre haja coisas que eles não sabem ou não entendem, porque faltam algumas peças. É isso que a internet e as redes sociais fazem: as pessoas se conectam e podem compartilhar e aprender juntas. Isso é ótimo.

Mas enfim, o livro é dividido em três partes. O livro na verdade faz parte de uma série feita pela Third Editions em que eles pedem aos autores que cubram três pilares: o processo de criação, a lore e algumas análises, como análises de mecânica de jogo, esse tipo de coisa. Eu disse à Third Editions que gostaria de me concentrar mais na parte da criação, porque a lore foi muito bem abordada, tanto pela Microsoft/Xbox/Bungie/343 quanto pela comunidade; e tem muitas análises ótimas dos jogos pela internet, seja de jornalistas ou jogadores apaixonados, como o The Act Man, que publicou um monte de vídeos bem legais que detalham os jogos, ele fala sobre o ritmo, tuning das armas (balanceamento), level design… Não concordo com tudo mas tem muita coisa boa aí. Então é por isso que, no livro, a parte da criação é tipo 2/3 do livro todo, haha. Eu queria dar à comunidade Halo algo que eu queria, como um fã de Halo. Tínhamos toneladas de artigos e vídeos e outras coisas por toda a internet, mas eram informações dispersas. Eu queria criar algo que pudesse ser independente, algo que até eu, o leitor, voltaria de vez em quando, quando precisasse de informações sobre Halo/Bungie.

O livro cobre os processos que levaram à criação de todos os jogos Halo desenvolvidos pela Bungie, mas não só. Era importante para mim falar sobre as pessoas que fizeram esses jogos, quem eram, de onde vieram, o que fizeram antes. Portanto, é claro que o livro remonta ao início dos anos 1950, quando Martin O’Donnell nasceu; e realmente termina em 2011, quando Eric Osbourne se despediu da comunidade Halo, quando a Bungie.net entregou as chaves do Halo Waypoint e quando nossas estatísticas mudaram para essa nova plataforma. Isso cobre muitas histórias diferentes, como você pode imaginar. Como estão Alex Seropian e Jason Jones, co-fundadores da Bungie; os primeiros jogos da Bungie e como eles levaram a Halo; Microsoft comprando a Bungie e como todos eles tiveram que lidar com o 11 de setembro, quando eles estavam tentando enviar o Halo CE… e sim, eu poderia continuar e continuar. Gosto de pensar que o livro é realmente completo. Sempre haverá coisas faltando, pessoas que eu gostaria de ter entrevistado. Tipo, acho que poderia ter passado mais tempo tentando conseguir uma entrevista com Max Hoberman, mas tudo bem. Os desenvolvedores de jogos tendem a dizer que precisam de um prazo de entrega para o jogo em que estão trabalhando. Eles precisam ter esse marco, precisam ter algo que os obrigue a enviar/lançar o jogo, caso contrário, eles podem repetir várias vezes, tentando adicionar mais coisas, tentando consertar mais coisas, etc. E não é possível, caso contrário, o jogo nunca seria lançado haha. Isso é praticamente a mesma coisa para este tipo de livro.

Ah, sim, e também, para deixar claro: a parte da lore vai apenas até onde Halo 3 termina. Escolhemos fazer isso porque a ideia era oferecer aos jogadores as chaves que eles precisam para aproveitar os jogos desenvolvidos pela Bungie. Mesmo que isso significasse que eu teria que escrever sobre coisas que a Bungie não criou ou nem pensou. Portanto, a parte da lore começa com o reinado dos Precursores e como eles criaram os Forerunners e os Humanos (e eu sei que este é um tópico quente entre os nerds do Halo lore ahaha, ainda hoje) e terminou com o fim da guerra Humanos-Forerunners. Porque eu sinto que você precisa saber essas coisas quando joga os primeiros jogos Halo, isso faz parte do mundo Halo. Há um pequeno último capítulo sobre as consequências da guerra e é assim que eu tinha que falar sobre como o programa Spartan-IV foi criado, como alguns grupos de Sangheili formaram uma nova ameaça para a humanidade, como a tecnologia Forerunner foi usada pela UNSC e ONI para construir coisas como a Infinity. Mas sou principalmente eu construindo uma ponte para atrair o leitor a jogar esses outros jogos que a Bungie não desenvolveu, mas são o que vem a seguir e o que eles devem jogar a seguir.

4 – Como foi entrevistar algumas figuras importantes da história da Bungie, como Martin O’Donnell e Marcus Lehto?

Oh cara, isso foi uma coisa incrível. Você poderia perguntar a Julien, meu ex-colega no Jeuxvideo.com, como eu reagi quando vi Martin O’Donnell me responder haha. Isso foi muito louco. Como jornalista nunca tive a oportunidade de conhecê-los e não conhecia ninguém que pudesse me ajudar a entrar em contato com eles. Naquela época, a Bungie realmente não me conhecia, eu era apenas um jornalista cobrindo Destiny, entre muitos outros. E quero dizer, eu era francês, tão longe de seus radares haha. Não é como se eles pudessem ler meu trabalho. Descobri o quão difícil seria toda essa coisa do livro durante um evento para a imprensa em Seattle. Estávamos lá para jogar uma nova versão de Destiny 2 e comecei a trabalhar no livro. Acho que, naquela época, eu nem tinha o sinal verde do meu empregador ainda, haha. Mas eu estava em Seattle, cercado por um monte de gente da Bungie, então pensei que esse poderia ser um ótimo ponto de partida, e comecei a perguntar se eles poderiam me ajudar e… descobri que eles não podiam falar sobre a Bungie sem a aprovação do Xbox, ou algo assim. Isso é apenas um contrato, algo que remonta a quando a Bungie e a Microsoft se separaram. Foi assim que entendi que só poderia contar com entrevistas com pessoas que saíram da Bungie.

O fato é que alguns dos maiores nomes que trabalharam em Halo deixaram a empresa. Isso foi bom e ruim: bom porque eles não estariam mais ligados a esse contrato, mas ruim porque isso significa que eu não poderia realmente contar com a Bungie para me ajudar a entrar em contato com eles, teria sido estranho. Então comecei a tentar alcançar alguns deles através das mídias sociais, como Twitter ou LinkedIn. Para Martin O’Donnell, pude usar o formulário de contato em uma de suas empresas. Realmente, era como uma mensagem em uma garrafa que eu jogaria no mar haha. Eu estava realmente para baixo neste momento. E então, certa manhã, no início de setembro, liguei meu computador no escritório, fui tomar um chá e, quando voltei aos meus e-mails, vi que o Sr. O’Donnell havia me respondido. O e-mail que enviei era bastante patético, com um título gigantesco, como “jornalista francês trabalhando em um livro implorando por uma entrevista”, ou algo assim haha. Então veio uma longa explicação do que eu estava tentando fazer e como ele poderia me ajudar. E ele apenas respondeu algo bem curto, como “Ei, estou aqui”. Quase desmaiei, não vou mentir.

As coisas eram mais fáceis com pessoas como Marcus ou Alex Seropian. Ambos responderam no Twitter. Marcus estava super ocupado trabalhando na construção de seu então novo estúdio, V1 Interactive, e de repente parou de atender. Eu estava bem no meio da redação da parte da criação do livro quando ele finalmente respondeu novamente e forneceu algumas informações surpreendentes. Eu tive que reescrever muitas coisas porque ele forneceu contexto, informações, coisas que eu não entendia. Isso foi uma loucura. Quando li suas primeiras respostas à minha pergunta, pensei “Puta merda. Puta merda. Puta merda”, porque quanto mais eu lia, mais mudava para “Merda, mais trabalho a fazer, estou atrasado no meu cronograma” para “Puta merda, o que estou lendo agora é ouro e o livro ficará muito melhor com isso”. É também por isso que fiquei tão feliz e orgulhoso que Marcus concordou em escrever o prefácio. Ele não poderia fazê-lo para a versão francesa. Mas ele teve mais tempo para esse lançamento em inglês, e eu não poderia estar mais feliz. Ele ajudou muito.

Alex Seropian me ajudou a entender como era a Bungie nos anos 90, como era trabalhar em Pathway Into Darkness, Marathon ou até mesmo como ele se sentiu quando a Microsoft comprou a Bungie. Todas as pessoas que entrevistei foram muito legais e ajudaram muito, nunca poderei agradecê-las o suficiente. Eles não apenas forneceram informações que eu nunca tive em primeiro lugar, mas também tiveram tempo para explicar certas coisas, como as coisas funcionam, como eles e outras pessoas se sentiram em certas situações… Isso foi realmente incrível. Você tem que entender que para mim essas pessoas são quase como deuses. Bem, talvez não deuses, mas… Quando eu era adolescente, assistia a todos esses vídeos, esses making-offs, principalmente aquele que saiu com a lendária edição de Halo 2. Martin O’Donnell e Michael Salvatori são de longe meus dois compositores de música de videogame favoritos. Marcus Lehto deu vida a visuais que ainda estão profundamente enraizados em meu cérebro, eu poderia falar por horas sobre a direção de arte de Halo e como ela variou/evoluiu de jogo para jogo. Principalmente a armadura, mas não só haha.

Em 2018, me vi em uma sala com Joe Staten fazendo uma demonstração de um jogo para um bando de jornalistas. Eu não esperava isso, não prestei atenção quando entrei na sala. Eu estava pensando naquele cara, no elevador, que estava conversando com vários outros representantes do Xbox. A voz parecia familiar. Eu estava pensando nisso quando entrei na sala, me sentei e peguei meu laptop… E então percebi, quando vi o cara na nossa frente, um controle de Xbox na mão, iniciando sua apresentação. Aquela voz, do cara no elevador, era Joseph Staten. E ele estava lá, fazendo a demo daquele jogo, e claro, a única coisa que pude ver foi ele jogando a demo de Earth City em 2003. Ele mudou um pouco em comparação com as últimas fotos dele que eu tinha em mente, porque ele tinha sem óculos, corte de cabelo mais curto e barba de 3 dias. Era Joe Staten, mas ele era uns 10 anos mais velho do que a última imagem dele que eu tinha visto haha. Então sim, esse é o tipo de fã de Halo/Bungie que eu sou. Então, é claro, depois de todos esses anos ouvindo-os, por meio desses vídeos, por centenas de horas; e, de repente, estávamos discutindo… Isso foi muito louco.

5 – Na sua opinião como autor, qual a importância de documentar e registrar algumas das partes fundamentais da história da Bungie e Halo neste livro?

Ah, como eu disse, isso é crucial. Esta é a maior coisa para mim. Como disse, sou ex-aluno de História, e essa ainda é uma das minhas maiores paixões. Já faz três décadas. Então, sim, você pode imaginar como documentar e registrar qualquer coisa é importante para mim, especialmente com coisas que amo. A única coisa com os videogames é que, seja o editor, o estúdio ou mesmo as mídias, eles tendem a se concentrar, na melhor das hipóteses, em alguns nomes/rostos. Claro que você sabe quem são Martin O’Donnell ou Bonnie Ross, e provavelmente leu algumas entrevistas com Quinn DelHoyo e talvez até Jaimse Griesemer, nos dias de hoje. Mas isso não é tudo. Há toneladas de pessoas trabalhando nesses jogos e eu queria que eles recebessem o reconhecimento que mereciam. Eu sei os nomes das centenas de pessoas que trabalharam em Halo em algum momento, e todas elas estão neste livro? Claro que não. Mas tentei humanizar o máximo possível, porque todos eles criaram algo que realmente me interessa e sou muito grato a eles por isso. Não é que eu só queria contar a história de como esses jogos foram feitos, eu queria principalmente contar as histórias das pessoas que fizeram esses jogos. E para esse tipo de escrita, documentar e registrar é absolutamente a chave. Porque você precisa conhecer essas pessoas, entender de onde elas vieram, do que gostam, do que não gostam, o que estão tentando realizar. A grande questão é que os jogos não são feitos por empresas, eles são feitos por toneladas de pessoas.
Então, se este livro cumprir esse papel, se no futuro servir como uma espécie de base para mais documentação, então eu poderia ter algo de que me orgulhar (além de minha incrível filha e esposa, é claro).

Além disso, acho que, pelo que descrevi antes, os fãs tendem a se concentrar em um monte de eventos, um monte de coisas realmente em preto e branco que podem ter lido em algum lugar. Na maioria das vezes, as coisas têm muito mais nuances. E para isso também, você precisa do máximo de fontes possível, para que possa entender melhor as coisas que aconteceram algumas vezes décadas atrás. Trabalhar em alguma parte deste livro não foi fácil. Espero que ajude futuros autores, outros fãs, outros membros desta comunidade, que irão adicionar suas próprias coisas. É assim que a História está sendo escrita, na verdade. Em algum momento, um cara ou uma senhora fez algumas pesquisas, escreveu um monte de livros e, depois deles, outros irão elaborar ou aprofundar assuntos que ainda não foram tocados.

6 – Alguma palavra final aos leitores deste artigo e aos potenciais leitores do seu livro?

Eu realmente espero que vocês gostem. Eu coloquei minhas entranhas neste livro, quando saiu, fiquei muito orgulhoso dele. Ainda hoje me orgulho disso, só que nesse meio tempo, descobri coisas novas, ou entendi melhor outras coisas. Claro, trabalhar na Bungie ajudou bastante haha. Mas como eu disse, livros são como jogos, você não pode trabalhar neles para sempre. Mas posso dizer que fiquei super bravo quando Max Hofman teve aquela incrível série de podcasts com o Bravo (Andy Dudynsky), com certeza gostaria de ter alguns desses detalhes quando escrevi o livro. Mas, independentemente disso, ainda acho que é um bom livro e, até agora, todos os fãs de Halo aqui que sabem ler francês, todos me deram feedbacks positivos. E melhor ainda, até meu pai, que não joga videogame e sempre teve opiniões muito fortes sobre videogames… ele leu.

Eu ofereci a ele uma cópia quando saiu. Ele adora livros, lê muitos deles, então eu só queria dar a ele uma cópia, mesmo que ele não leia. Eu não esperava que ele o fizesse, quero dizer, olhe para aquela fera, é um livro bem grande haha. Mas alguns dias depois de lhe dar o livro, recebi uma mensagem dele. Eram 2 da manhã, eu estava tipo “Merda, algo ruim aconteceu”, mas eu li o texto e ele disse “Não obrigado, li seu livro nos últimos dias a noite toda, acordo em 4 horas.” E… sim, para mim, isso diz muito. Ele realmente não se importava com Halo e videogames, mas adora uma boa história bem escrita, com personagens interessantes. Para mim, significa muito.

Então, espero que você goste de lê-lo, seja qual for o motivo. Muitas pessoas me disseram que depois que terminaram de ler, se sentiram um pouco solitárias porque, ao ler o livro, sentiram que faziam parte daquele time, daquela família. Mas quando o livro acaba, a história acaba, e esses personagens (mesmo que sejam pessoas reais!), eles seguiram caminhos separados. Assim como você pode se sentir quando termina de ler ou assistir O Senhor dos Anéis, você sabe o que quero dizer? Você passou dez horas assistindo a esses filmes, centenas de horas lendo esses livros. Em algum momento, esses personagens se tornam seus amigos, a Terra-média se torna seu mundo e, de repente, acabou. Eles foram embora. Foi o que senti quando terminei de trabalhar na parte da criação do livro. Passei um ano lendo essas pessoas, ouvindo-as, tendo suas vozes ecoando na minha cabeça. Contar suas histórias foi como viver esses tempos com eles. Meio que doeu acabar com essa história, haha. E, de alguma forma, fico feliz que algumas pessoas tenham sentido o mesmo quando o leram. Eu não quero te machucar de forma alguma haha, mas eu meio que espero que você sinta o mesmo. Isso significaria muito.


Esta foi a entrevista com Loïc Ralet, autor de Halo: A Space Opera From Bungie. Para mais conteúdo sobre Halo, fique ligado na Halo Project Brasil.



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