11 de setembro: como o atentado influenciou a história e o lançamento de Halo 2

Willian Santos, 11 de setembro de 2023

No dia 11 de setembro de 2001, um dos mais marcantes ataques terroristas da história aconteceu. Em Nova York, os dois principais prédios do World Trade Center vieram abaixo após aeronaves sequestradas colidirem contra as Torres Gêmeas. Tamanho foi o impacto deste atentado que suas consequências se estenderam muito além da destruição daqueles prédios. Imediatamente e nos anos seguintes, o 11 de setembro acarretou profundas mudanças na sociedade ocidental, principalmente quanto às medidas e precauções de segurança, mas não só. Toda a indústria de entretenimento norte-americana sentiu e sofreu os impactos desse acontecimento, afetando inclusive a cultura e o mundo dos games.

E é em memória a esta data que a HPB traz hoje uma matéria especial sobre um fato pouco conhecido: a influência que o 11 de setembro de 2001 teve no desenvolvimento de Halo 2 e as modificações que tiveram que ser no título feitas pela Bungie semanas antes do lançamento.

Arbitro ou Dervish? 11 de setembro causa mudanças na história de Halo 2

Halo 2 possuía a grande responsabilidade de suceder Halo: Combat Evolved e continuar a história do aclamado título lançado junto ao primeiro console Xbox. Halo: CE foi lançado em 15 de novembro de 2001, semanas após o atentado, mas o ataque terrorista só iria impactar a franquia a partir do segundo game, que seria lançado mais de 3 anos após o atentado.

Videogames de alto orçamento, especialmente na era moderna, possuem grandes ciclos de desenvolvimento que podem durar anos. Durante este longo estágio de produção, muitos conceitos se concretizam, enquanto outros são abandonados. Mas o que acontece quando um estúdio tem que mudar um destes conceitos quando 97% do desenvolvimento já está completo?

Ao lado do Master Chief, o outro protagonista de Halo 2 é o Elite Thel ‘Vadam, que posteriormente recebe o título de O Arbitro. Contudo, a intenção original da Bungie era nomeá-lo de O Dervish (O Dervixe em português), um título dado a certos praticantes e aderentes do Islamismo Sufista, uma corrente mística da região Islâmica.

“Durante 97% do desenvolvimento do jogo, o Árbitro foi o Dervixe. Vou ter cuidado aqui porque não me lembro de todos os detalhes, mas esse nome se refere a um papel especial e distinto na religião do Islã, uma espécie de guerreiro sagrado. Então realmente se encaixa na ideia desse guerreiro distinto, extremamente poderoso e quase abençoado pelos deuses.”, disse o líder de design do jogo Jaime Griesemer em entrevista a VICE.

Abaixo, uma imagem do storyboard de Halo 2 exibindo o “Dervish”:

Inicialmente, a Microsoft Game Studios aprovou o nome do personagem. Entretanto, um ano depois, um dos consultores da empresa alertou a Bungie do risco de que a história de Halo poderia ser interpretada de forma problemática diante da situação geopolítica daquele momento. O responsável por notar este problema em potencial foi Tom Edwards, estrategista geopolítico sênior da Microsoft.

“Durante a revisão geocultural do conteúdo de Halo 2, o nome original do personagem Árbitro – Dervish – foi identificado como um problema potencial. Fora do contexto, o nome ‘Dervixe’ não era muito sensível, pois é um título do sufismo do Islã”, disse Tom ao site Gamasutra. “No entanto, dentro do contexto do jogo, este nome islâmico de ‘Dervixe’ criou uma alegoria potencialmente problemática relacionada ao enredo de Halo 2 — as forças semelhantes aos EUA (Master Chief/Johnson) versus o Islã (o Covenant religioso, que já tinha um “Profeta da Verdade” que é sinônimo de Maomé).”

As razões apontadas por Edwards podem não soar suficientes para uma mudança na visão de algumas pessoas, mas o ex-consultor da Microsoft ressaltou a tensão geopolítica da época.

“Veja bem, isso não foi muito depois do 11 de setembro, então a sensibilidade a essas questões permaneceu alta. No final, o nome do personagem foi alterado para ‘Árbitro’ – o que na minha opinião funcionou muito melhor para o papel do personagem na narrativa.”

Ao receber a notícia de que teria que mudar o nome do personagem, a Bungie se mostrou irritada, de acordo com Martin O’Donnel. Diversas linhas de diálogo já haviam sido gravadas e alguns materiais promocionais do jogo já haviam sido impressos com O Dervish. Faltando algumas semanas para o jogo ser finalizado, o estúdio conseguiu adicionar o novo nome — O Arbitro — aos arquivos do jogo e falas foram regravadas, mas algumas linhas deixaram de ser gravadas e manuais foram comercializados com o nome descartado.

“O Dervish já existia há muito tempo e tínhamos todas essas falas de diálogo gravadas, dizendo a palavra em todos os lugares. Dissemos aos especialistas em geopolítica da Microsoft: “Olha, vocês aprovaram isso há um ano. Perguntamos a você sobre essas coisas.” Ficamos muito chateados. Achei que não havia nada que pudéssemos fazer. Mas cortamos cada palavra de cada personagem que já disse a palavra Dervishe e regravamos todas essas falas para tentar combiná-las, dizendo “Árbitro”. Acho que havia manuais de usuário já impressos com Dervish. Foi horrível.”, disse Martin a VICE.

UNSC e Covenant: A polêmica interpretação da história de Halo 2

Segundo Joseph Staten, a história de Halo teve influência direta do tópico religão, muito em razão do seu pai, que era um teólogo. Afinal, o principal vilão da primeira trilogia da saga é o Covenant, uma organização com fins religiosos comandada por “profetas” que interpretam resquícios de uma civilização extinta como obras divinas.

“Ao fazer os jogos Halo, certamente minha educação entrou no jogo. Eu também sou filho de um pastor, meu pai é professor de teologia e filosofia da religião(…) Se você pensar bem, a Grande Jornada é um ciclo de violência condenado e interminável; então todos esses pensamentos entraram na história.”, disse Staten.

Considerando o contexto histórico da época, algumas pessoas interpretaram a história de Halo 2 como uma possível analogia ao momento geopolítico do planeta. Nesta interpretação, que devemos ressaltar que é subjetiva e não-oficial, a UNSC poderia ser vista como os Estados Unidos e o Covenant como uma representação do Islã. Por este motivo, Tom Edwards decidiu recomendar a retirada da referência ao Islamismo do nome do novo protagonista da saga.

Esta brecha interpretativa gerou certa polêmica em torno do jogo, com diversos artigos sendo publicados ao longo dos anos sobre o tópico. Alguns possuíam um tom neutro e explorativo, enquanto outros reprovaram tal analogia por um suposto teor político contra o então presidente dos Estados Unidos George Bush e as campanhas militares iniciadas pelos EUA após o 11 de setembro.

Esta foi a história de como o 11 de setembro influenciou o desenvolvimento de Halo 2 e como o game foi visto como uma analogia ao momento geopolítico do mundo durante seu lançamento. Qual sua interpretação deste tópico? Acha que Halo 2 pode ser visto por este ângulo?

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