Halo: Chronicles, O Cancelado Jogo Episódico Semelhante à Batman Arkham

Willian Santos, 27 de março de 2020

 A franquia Halo nunca teve limites ou barreiras, sempre explorando novos horizontes além dos FPS, produzindo séries de TV, HQs, livros e até um RTS spin-off.

Indo ainda além, você já parou pra imaginar como seria um jogo da franquia Halo com escolhas na história? Um jogo aos moldes de The Walking Dead da Telltale ou de Life Is Strange da Dontnod? Mas diferente desses jogos, um jogo com combate semelhante à série Arkham? Pois bem, esse jogo já chegou a existir e tem nome. Se chama “Halo: Chronicles”.

Nesta matéria, contaremos uma das maiores histórias não contadas dos bastidores de Halo. Contaremos do estúdio de um renomado diretor de Hollywood que pretendia não só fazer um Halo com escolhas na história, mas fazer vários outros jogos assim para o Xbox. Contaremos como toda essa jornada mudou a história da Bungie e da franquia Halo para sempre, fazendo com que um dos mais importantes jogos de toda a saga existisse.

Antes de iniciar a leitura, esteja ciente que todas as fontes de todas as informações apresentadas no texto estão no final da matéria.

Wingnut Interactive: A História Não Contada

Em 2005, com a franquia Halo fazendo fãs por todo o mundo e com o recém lançado Xbox 360, a Microsoft Studios liderada por Peter Moore (hoje diretor executivo do Liverpool) decidiu que era hora de levar a franquia Halo para outro patamar, de uma forma que a lineup de exclusivos do 360 teria uma grande adição diversificada pra época. Com isso, a Microsoft/Bungie se reuniu com Peter Jackson, nada mais nada menos que o responsável por dirigir toda a trilogia de “Senhor dos Aneis” e pelo filme “King Kong“, além de muitas outras obras.

A partir daí, a parceria estava formada. De um lado, a Xbox e a Microsoft. Do outro, Peter Jackson liderando o estúdio nomeado de Wingnut Interactive, que seria sediado na Oceania, Nova Zelândia.

O Planejamento do Jogo

Na época, a Bungie estava a planejar Halo 3 e Halo 4, mas o jogo em parceria com a Wignut seria lançado entre esses dois jogos. Quando uma parte da Bungie começou a se encontrar com Peter, a outra parte já estava planejando como seria o Halo 4 mesmo antes do lançamento do Halo 3.

Houve um tempo em que estávamos indo trabalhar em um jogo com Peter Jacksonm Nós tinhamos o que chamávamos de os três baldes (Halo 3, o jogo do Peter e o Halo 4). Nós deveríamos encher esses 3 baldes na sequência para nos tornamos completamente independentes e criar a nossa própria IP.

Afirmou Martin O’Donnel à VICE.

Lembrando que a Bungie chegou a fazer a pré-produção de Halo 4, mas optou por lançar Halo: Reach.

Em Setembro de 2006, durante a X06, a Microsoft veio a público e anunciou o projeto, o que deixou os fãs loucos. Em 2007, a própria Microsoft confirmou ao público que se tratava de um jogo episódico. Foi também na X06 que Halo Wars foi anunciado.

A missão inicial do estúdio seria de alta responsabilidade: levar a série Halo para outro nível e transformar todo o universo da maior franquia do Xbox em um jogo episódico com história interativa. Para auxiliar no projeto, a Bungie criou um time secundário para trabalhar junto a Wingnut Interactive. 

Em 2007, Joseph Staten, que atuou como Diretor Narrativo e Diretor Criativo em jogos Halo, confirmou em uma entrevista que o jogo teria como subtítulo “Chronicles“.

A História do Jogo e a Jogabilidade que Seria Semelhante à Batman Arkham

Haviam rumores de que a história giraria em torno de Master Chief, contando sua história antes dos jogos, mas em 2017 desenvolvedores da Bungie afirmaram ao site VICE que o protagonista seria um marine desconhecido, que não teria armas, mas que teria uma misteriosa tecnologia Forerruner implantada no corpo que seria descoberta no andamento do jogo. Os comandos do jogo seriam baseados no meele, com ataques de atordoamento, empurrão e até double jump e dash. O único modo de ataque seria com o braço, que teria influência da tecnologia Forerruner. Com as duas mãos, o jogador teria duas habilidades: numa mão poderia afastar inimigos, na outra poderia atordoá-los.

Nas próprias palavras de Paul Betorne, que participou do desenvolvimento do jogo, o Marine se tornaria um Promethean, conceito que mais tarde foi usado em Halo 4.

Peter Jackson tinha um lema durante o desenvolvimento do jogo “Seja a Bala”. Ele queria que o jogador se sentisse imerso do inicio ao fim na pele de um ser humano normal que com o passar do tempo se mostraria um humano modificado.

Algo que pode parecer loucura é que com o passar do jogo, o Marine que você controlaria se transformaria num míssil de navegação espacial que marcaria alvos e partes específicas de naves Covenant. (E vocês achando ruim um suposto gancho no Halo: Infinite)

O sistema de combate e os inimigos seriam bastante semelhantes com o que vemos hoje na série Batman Arkham, mesmo não tendo nenhuma inspiração dela. Damian, engenheiro da Bungie criou o estilo que chamava de “Kung Fu”, pois o personagem seria muito mais fraco que o normal e o sistema de combate também teria que mudar. Semelhante aos jogos Arkham, os inimigos iriam te cercar, enquanto outros iriam se esconder.

O jogo já era jogável. A Bungie implantou todas as mecânicas e gameplay do jogo nas cinco primeiras missões do Halo 3 para testá-las.

O Filme de $150,000,000 de Dólares

Baseado em entrevistas de desenvolvedores e pronunciamentos, não seria apenas o jogo, mas também Peter participaria na criação de um filme de Halo, cujo diretor inicialmente seria Guillermo del Toro, mas Neill Blomkamp acabou sendo o escolhido. Além disso, Joe Staten, da Bungie, afirmou que o filme teria um orçamento de $150,000,000 de dólares.

Segundo os próprios desenvolvedores da Bungie, o filme nunca sequer teve um roteiro sólido e nunca foi gravado.

“Eu não sei como fazer um filme. Eu nunca trabalhei em Hollywood. Mas nós estávamos lidando com pessoas com grande poder em Hollywood para fazer aquele filme(…) Eu sentava com Peter em seu escritório com todos os seus Oscars e nós falávamos sobre o roteiro do filme. Eu contava à ele o que realmente importava; Se o que ele planejava fazer com Master Chief seria bom(…) Afirmou Joe Staten à VICE.

O filme acabou não acontecendo, mas Neil dirigiu o curta metragem “Landfall”.

Voltando ao jogo, após fazer Chronicles, a ideia seria desenvolver outros dois jogos para o Xbox 360. Não se tem certeza se esses jogos também seriam exclusivos, mas se fosse, poderia transformar o estúdio em um dos principais da Microsoft.

O projeto era animador, havia uma grande publisher disposta a financiar o estúdio e os jogos, havia um diretor de filmes renomados e também havia a maior franquia do Xbox. Halo: Chronicles foi planejado para ser um dos maiores lançamentos do Xbox 360 e deveria ser lançado após Halo 3. 

As atualizações do projeto eram constantes. Sempre havia um desenvolvedor ou alguém envolvido no projeto para falar de novidades. Porém, em Julho de 2009, o líder do estúdio, Peter Jackson soltou uma bomba que assustou os fãs de Halo e de Xbox: O projeto já não estava mais em desenvolvimento. Em julho de 2009, a Microsoft veio a público dizer que o jogo não havia sido cancelado, mas que estava sendo segurado e que a Wingnut estava na ativa. Porém, nada disso se tornou realidade.

Com o passar do tempo, todos perceberam como a parceria tão promissora acabou dando errado, com o estúdio sendo fechado sem sequer lançar um único jogo e ainda atrapalhando os planos da Bungie.

São em situações como essas que a criatividade e a força de um estúdio são postos a prova. Com o cancelamento de Chronicles, a Bungie enfrentava um de seus maiores desafios da história. Tinham dezenas de pessoas no estúdio que foram direcionadas para trabalhar com Chronicles, mas que agora estavam sem um projeto para trabalhar, além de terem a cobrança da Microsoft cumprir com o contrato e lançar um novo Halo em 2009. Foi então que surgiu um dos jogos mais aclamados pelos fãs.

Bungie ainda precisava fazer outro jogo de Halo. Nós já tínhamos o time de Reach trabalhando. Então Harold me perguntou, “Se você fosse fazer outro game de Halo, que história você iria contar?”Afirmou Martin O’Donnel à VICE.

Joseph Staten da Bungie sentou-se com o time por um mês inteiro, analisou o orçamento que o estúdio tinha, observou a janela de um ano em que Chronicles deveria ser lançado e se viu diante de um grupo de desenvolvedores experientes e talentosos com muita sede de fazer um novo Halo. Foi então em 2008, que a Microsoft exigia que a Bungie fizesse um novo Halo e queria que o estúdio desenvolvesse uma DLC para o Halo 3. Dai surgiu a ideia de fazer o Halo 3: Recon, que viria a ser o aclamado Halo 3: ODST. Foi também nessa época que outro grande jogo da Bungie começou a ser desenvolvido. É o que conhecemos hoje como Destiny.

Porém, a forma como a Bungie conseguiu desenvolver Halo 3: ODST em apenas 14 meses é outra história, quem sabe a contaremos em uma matéria futura. 

Além disso, vale lembrar que muitos anos após isso, Peter Jackson reabriu a Wignut, mas desta vez com o nome de Wingnut AR. Sem qualquer relação com a Microsoft Studios ou com o Xbox, a Wingnut AR é um estúdio de realidade aumentada.

Essa foi a história de Halo: Chronicles, o promissor jogo episódico de Halo que foi cancelado, além da trajetória do estúdio Wingnut Interactive, que fechou as portas sem lançar um único jogo.

Qual a sua opinião sobre? Acharia interessante um novo jogo Halo aos moldes da Telltale? Seria útil ao Xbox Game Studios um estúdio como a Wingnut focado em desenvolver jogos do gênero? Dê a sua opinião nos comentários abaixo, além de interagir com a nossa comunidade no Twitter e no Facebook.

Fonte:

Kotaku (ODST)

Halopedia (Informações Gerais)

Engadget (Microsoft afirma que o jogo está ativo)

Engadget 2 (Jogo Cancelado)

VICE (Entrevista)

EuroGamer(Halo 4 da Bungie)



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