CRÍTICA – Mais concisa, Segunda Temporada de Halo aposta em tom sombrio e ainda consegue ser mais cativante que a Primeira Temporada

Willian Santos, 5 de fevereiro de 2024

A Halo Project Brasil recebeu da Paramount o acesso antecipado aos 4 primeiros episódios da nova temporada de Halo, que retorna para sua aguardada segunda temporada nesta quinta-feira, dia 8 de fevereiro, no serviço de streaming Paramount+, e nós da HPB já temos diversos conteúdos preparados para esse lançamento. Além de uma roda de conversa entre os integrantes que tiveram a oportunidade de discutir a primeira metade da nova temporada, que você pode assistir aqui, preparamos também uma crítica – SEM SPOILERS – sobre os novos episódios da série de TV.

Segunda temporada de Halo é mais sombria e cativante

Assim como os atores e produtores já haviam mencionado publicamente durante as entrevistas do tour de imprensa nos últimos meses, a nova temporada de Halo é de fato muito mais sombria que a primeira. Essa ambientação mais “dark” é estabelecida logo de cara, com um tom adequadamente muito mais soturno e condizente com o cenário da guerra contra o Covenant como já conhecemos dos games. Enquanto a primeira temporada serviu para introduzir o inimigo e demonstrar algumas de suas motivações, a segunda retrata o Covenant como ele realmente é aos olhos da humanidade: uma ameaça sem precedentes à sua existência, que não poupa meios brutais para alcançar seu objetivo de erradicação.

Esta direção narrativa transforma “Halo” em uma história de guerra estruturalmente mais clássica do que a primeira temporada, que mostra de perto os efeitos trágicos dos conflitos, seja sobre os refugiados, civis, militares, e claro, Spartans. Optar por retratar mais a fundo essa parte do conflito é um dos primeiros grandes acertos da segunda temporada de Halo, já que este lado da história esteve um pouco ausente da primeira temporada, sendo preterido por mais cenas de batalhas entre a UNSC e o Covenant. Apesar de épicas, as cenas de combate entre os dois exércitos não conseguiram mostrar a verdadeira extensão da carnificina cometida pelo Covenant contra os humanos, com apenas pequenos trechos se preocupando com este lado da história (como em Madrigal no primeiro episódio da temporada passada).

Diferente da primeira temporada, que foi criticada por conter alguns episódios monótonos em que não havia nem ação e nem muito suspense, a segunda temporada de Halo consegue manter a audiência na ponta da cadeira mesmo em seus momentos menos frenéticos, em que há uma pausa nas batalhas brutais. Apesar de não conter grandes cenas de ação em todos os episódios, o roteiro consegue gerar ansiedade e aflição suficientes para deixar o público querendo mais e se perguntando sobre o que vai acontecer a seguir.

Os personagens da Segunda Temporada de Halo

Uma das grandes novidades da segunda temporada é James Ackerson, personagem interpretado pelo popular ator Joseph Morgan, mais conhecido por seu trabalho nas séries The Vampire Diaries e The Originals. O personagem brilha nesta primeira metade de temporada, com uma atuação excepcional de Joseph que faz jus ao script profundo que seu personagem recebeu. Sem sombra de dúvidas, o seu James Ackerson está mais do que à altura do legado que a sua contraparte carrega no Universo canônico de Halo, pelo menos até aqui. Longe de ser um vilão unidimensional, que antagoniza os heróis apenas por ser “o vilão”, a série se preocupa em mostrar seu lado humano, o impacto da guerra sobre ele e aquilo que o motiva a tomar certas decisões controversas, que com certeza devem lhe render poucos fãs entre o público.

E é isto que a segunda temporada de Halo é — uma história humana sobre os efeitos, medos e tragédias causadas pela natureza desumana da guerra, em que nenhum dos lados sai ileso. Vemos isto com Vannak e, principalmente, com Riz, que são personagens muito mais profundos aqui do que na primeira temporada. Se você sentiu falta de ver estes personagens abordados como mais do que apenas os “outros” Spartans do Silver Team, a segunda temporada não irá te decepcionar. Afinal, Spartans também são humanos, e a série acerta ao tornar Riz uma das grandes protagonistas destes primeiros 4 episódios.

Outro grande novo acerto da série é o maior foco nos personagens coadjuvantes, que também são retratados de forma cativante, marcante, e até emocionante. Tendo em vista que suas tramas estão diretamente ligadas ao caos e aos traumas deixados pela guerra Humano-Covenant, quem assiste vai se sentir diretamente ligado a estes personagens. É por meio deles que o público poderá finalmente ter a experiência aterrorizante do conflito pelos olhos dos civis, e ver o quão vulnerável um humano comum é em um cenário de guerra. Entre os destaques deste núcleo está Talia Perez, uma nova personagem interpretada de forma maestral por Cristina Rodlo.

Mas o maior de todos os destaques – ou problema, dependendo de quem for perguntado – é o grande elefante na sala: a caracterização do Spartan John-117, o Master Chief. Desde o início da divulgação da segunda temporada, não havia muitos mistérios sobre como o Chief apareceria nos novos episódios. O próprio ator Pablo Schreiber, intérprete do Master Chief, reiterou inúmeras vezes que o personagem continuaria a ter cenas sem o capacete nesta nova temporada. E podemos confirmar que essa dinâmica continua a mesma da primeira temporada: com capacete nas cenas de ação, sem capacete (e até sem armadura) em locais seguros. Também como na primeira temporada, a série não faz nenhuma tentativa de abordar o personagem como uma mera máquina de guerra sem sentimentos que está sempre no campo de batalha. Há inúmeras cenas de diálogos, vivências humanas e confrontos políticos com a participação do personagem. Porém, é notável que John-117 tem uma postura muito menos… extrema, por assim dizer, que na temporada anterior.

Segunda temporada de Halo muda de direção, mas não radicalmente

De fato, os primeiros 4 episódios da segunda temporada de Halo apresentam um novo tom e uma trama muito mais cativante e precisa que a primeira temporada. Pode-se dizer que o principal ponto em que há um “reset” é no tom, que agora é mais sombrio. Entretanto, certamente a diferença de direção em que a segunda temporada aposta não é uma mudança tão brusca em relação à anterior como algumas das declarações dos atores e produtores envolvidos levaram a acreditar — ela ainda é objetivamente uma sequência. Se você não gostou da primeira temporada e espera uma conversão radical, certamente poderá se desapontar com estes primeiros episódios.

Tendo isto em vista, é importante refletir sobre as possíveis razões pelas quais a primeira temporada pode não ter agradado. É visível que muitos fãs de Halo tiveram apenas a oportunidade de vivenciar os jogos FPS, que possuem uma direção completamente diferente de uma produção de cinema ou TV. Nos principais jogos da série, tanto a Bungie quanto a 343 Industries te colocam em cenários de guerra para que você se imersa na mais pura ação do gameplay durante toda a campanha. Mas é importante alertarmos a estes fãs que Halo nunca se resumiu a isso. Na realidade, pura ação com lampejos de outros elementos é tudo que os jogos deste gênero conseguem abordar em suas 6 a 10 horas de gameplay. Mas há décadas vemos em livros e HQs da saga histórias que certamente não mostram tiroteios o tempo todo, muito pelo contrário. É essencial lembrar que o primeiro produto lançado da franquia foi o livro “Halo: The Fall of Reach”, que chegou às lojas antes mesmo do que o Xbox Original e Halo Combat Evolved, além de servir como uma “prequel“ ao jogo.

Halo é, em essência, uma história humana que vai muito além dos Spartans ou ODSTs que assumimos o controle em primeira pessoa para atirar em aliens. Em Halo, sempre tivemos tramas pessoais, políticas, romances, dilemas humanos e outros aspectos que sim, estão presentes em alguns jogos, mas apenas de maneira breve e superficial. Nos livros e HQs, por outro lado, sempre vimos este lado da franquia com um foco muito maior.

A série de Halo é uma grande oportunidade de retratar todos estes aspectos, por novos ângulos e de maneira única, que nunca seria possível nos jogos em primeira pessoa pelos quais a franquia é conhecida. Halo não é uma história apenas sobre um soldado que raramente fala e que existe apenas quando está no campo de batalha. Halo é e sempre foi uma profunda, épica e emocionante história de um universo gigantesco, com uma gama imensa de personagens, civilizações e facções. E isso, em suma, significa que fora dos jogos você não verá muitas histórias que são exclusivamente focadas no Master Chief atirando no Covenant. Existem várias histórias sobre personagens que não são Spartans ou sequer soldados. Por isso, vale ressaltar que a série de Halo é um novo retrato deste universo, e não apenas dos jogos, que pouco representam a imensidão e diversidade da franquia.

Aproveitamos o final desta análise preview para relembrar duas falas de Pablo Schreiber em entrevista ao Collider. A primeira é sobre o desafio de adaptar Halo em comparação com a adaptação de jogos com escopo muito menor e concentrados em poucos personagens:

Acho que faz uma grande diferença qual é o material de origem. Em outras palavras, há uma grande diferença entre a escrita de diferentes videogames – uma enorme diferença, certo? – na forma como certos videogames são escritos em comparação com outros videogames, o que altera o material de origem. Existem videogames que são escritos de uma forma que você pode pegá-los, colocá-los na tela como uma série de TV e eles simplesmente funcionam, certo? Há outros que talvez não façam essa tradução tão bem. Então, há muita variação entre o material original quando se trata de videogames, histórias em quadrinhos, qualquer uma dessas coisas.”

A segunda é sobre como retratar esta adaptação respeitando o material de origem:

“Os jogos são o modelo. Os jogos são o que as pessoas adoram e com os quais interagem, por isso tem que ser a pedra original. Tem que ser a primeira coisa com a qual você se identifica, e foi para mim(…) dito isto, ao fazer uma série de TV, você necessariamente quer criar uma experiência diferente daquela que você teve quando jogou videogame. Se tudo o que você está fazendo é recriar a mesma experiência que teve quando jogou o videogame, o que você está adicionando à franquia? Você não está adicionando nada. Então, foi a pedra original, foi o ponto de partida. Acho que foi isso que todo mundo que trabalha no programa tem muita reverência e quer acertar, mas também foi algo que você teve que expandir e teve que encontrar uma maneira de colocá-lo em um contexto em que isso funcionaria para esse meio em que você está contando a história.

Para fazer uma análise final sobre a segunda temporada de Halo, é preciso assistir a metade final dos episódios e ver para onde a trama vai. Mas, por ora, podemos definir esta nova temporada como uma trama fortemente humana, que trata sobre os efeitos da guerra nas diferentes camadas da sociedade: líderes políticos, soldados e suas famílias, civis e mais, tendo uma trama muito mais cativante que a primeira temporada que, principalmente no início, falhou em ter uma direção clara de onde queria chegar e qual história queria contar.

Ainda é cedo para cravar, mas podemos dizer que a segunda temporada se mostra, até então, uma evolução positiva quando comparada a sua antecessora.

Texto de Willian Santos
Revisão por Sávio Xavier




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