Se você acompanha as notícias diárias da indústria dos jogos, provavelmente já está sabendo da última “bomba” a explodir dentro do universo do Xbox, revelada pelo jornalista do Bloomberg Jason Schreier e confirmada em seguida por diversos veículos de notícias do meio.
As opiniões contidas nesta matéria representam apenas a visão do autor e não, necessariamente, as da Halo Project Brasil.
Em um e-mail vazado, foi anunciado por Matt Booty, chefe dos estúdios pertencentes à Microsoft (incluindo Xbox Game Studios e ZeniMax), o fechamento de quatro estúdios adquiridos pela empresa em 2021: Alpha Dog Studios, Roundhouse Games (absorvido pela ZeniMax Online Studios), Tango Gameworks e Arkane Austin.
Não é preciso dizer que essa notícia foi uma grande surpresa para todos que acompanham os movimentos da Microsoft nos últimos anos no mercado de jogos, em especial quanto ao fechamento da Tango Gameworks. O estúdio é uma das casas de desenvolvimento mais ativas da companhia, responsável pelo lançamento de títulos populares como a série The Evil Within e, após a sua aquisição pela Gigante de Redmond, também de “Ghostwire: Tokyo” e do aclamado Hi-Fi Rush, além de ser o único estúdio first-party do Xbox no Japão. A justificativa para essa decisão foi, como sempre, a necessidade de focar investimentos em áreas e jogos mais importantes para a Microsoft no momento.
Seja essa justificativa válida ou não, um pronunciamento deste nível feito pelo chefe dos estúdios do Xbox carrega grande peso e pode indicar repercussões que vão muito além dos muros da ZeniMax e da Bethesda quando analisamos os tipos de jogos que eram desenvolvidos pelos estúdios que foram terminados: jogos primariamente single player.
Phil Spencer, CEO da divisão Microsoft Gaming e ex-líder do Xbox, tem dado várias entrevistas sobre o estado atual da indústria desde que a decisão de levar jogos previamente exclusivos da plataforma da empresa a consoles concorrentes se tornou pública. Segundo Spencer, apesar das cifras bilionárias movimentadas anualmente pela indústria de games, o mercado passa por um período de estagnação no crescimento, o que tem levado as maiores participantes deste segmento a procurarem formas de expandir seu faturamento e assegurar o retorno do seu investimento.
Fato é que o custo de desenvolvimento de jogos AAA realmente explodiu durante a última década. Quando comparamos essa cifra com as palavras mais recentes de Booty, fica claro que a direção da empresa de Bill Gates não está mais disposta a financiar jogos que não lhe deem o devido retorno financeiro, ainda que tais jogos recebam aclamação da crítica especializada e dos jogadores mundo afora. As constantes rodadas de demissões que afetaram a divisão de jogos da empresa nos últimos meses são prova ainda maior que a era das aquisições e gastos desenfreados terminou.
“Essas mudanças são baseadas na priorização de títulos de alto impacto e no investimento adicional no portfólio de jogos de grande sucesso e mundos amados da Bethesda que vocês cultivaram ao longo de muitas décadas” – Matt Booty.
Mas o que tudo isso tem a ver com o futuro de Halo? Incialmente, pode parecer que as notícias de hoje se resumem à ZeniMax, seus projetos e seus funcionários, mas as palavras de Matt Booty não deixam dúvidas que há uma mudança brusca de estratégia dentro do Xbox como um todo. Projetos que sejam considerados como sendo “de nicho” poderão ser desencorajados ou engavetados em favor daqueles de maior apelo comercial. Em outras palavras, o foco agora deve ser em jogos multiplayer e jogos de serviço. Jogos single player devem ser relegados a franquias consolidadas como Fallout e The Elder Scrolls, sem muitas chances para que novas IPs, como Hi-Fi Rush, ou antigas, mas nem tão populares, como Dishonored e Prey, sejam exploradas.
Halo, como de costume nos últimos anos, está em uma posição difícil neste xadrez. A franquia é conhecida tanto por suas campanhas épicas e narrativas mais profundas quando comparada a outras séries clássicas de shooters, como pelo seu componente multiplayer, seja ele competitivo ou co-op. Como se sabe, a 343 Industries não passou ilesa das séries de demissões feitas pela Microsoft recentemente, incluindo nos níveis mais altos da hierarquia do time. Recentemente, houve a saída de Bonnie Ross, a transferência de Kiki Wolfkill, a saída de Joseph Staten, e de outros membros da liderança do estúdio. A liderança inteira da 343, que lá estava desde a sua fundação, foi substituída após o lançamento conturbado de Halo Infinite.
Não é nenhum segredo que a performance do último blockbuster da série Halo como um jogo de serviço deixou muito a desejar. Entre atrasos e outros problemas, Halo Infinite sofreu com a falta de novos conteúdos e atualizações pela maior parte dos seus dois primeiros anos de vida no mercado. Mesmo agora em 2024, o ritmo de atualizações e de adições de conteúdo ao jogo continua mediano: a narrativa do multiplayer foi completamente abandonada já há bastante tempo, as temporadas (seasons) foram trocadas por operações com passes de batalha medíocres em conteúdo, a maioria dos novos mapas são criações do modo Forge e já se vão longos 13 meses desde que a última nova arma foi adicionada à sandbox (Rifle Bandit).
Em um cenário instável como esse, qual futuro um jogo como Halo Infinite pode ter? E mais, há qualquer futuro para a franquia Halo em um mercado tão competitivo que não seja o ostracismo?
Créditos da imagem: Klobrille
Na minha opinião, o e-mail de Matt Booty, apesar de ser uma catástrofe para os desenvolvedores afetados, é uma boa notícia para os fãs de Halo. Mais especificamente aos fãs do multiplayer de Halo.
Apesar dos vários problemas que afetaram e afetam Halo Infinite, o novo caminho que a Microsoft parece adotar com o Xbox é a de expandir o acesso a seus jogos para o maior número de jogadores possível, mesmo que isso signifique em danos à sua principal plataforma, o console Xbox. O fechamento de estúdios focados em jogos single player atrelados à opção de lançar títulos como Grounded e Sea of Thieves nos consoles da Sony e da Nintendo confirmam essa filosofia de mercado em que o mais importante é o número de jogadores fidelizados, não importa onde eles estejam.
Halo Infinite é um produto pronto, de qualidade em sua maior parte, disponibilizado de graça e monetizado a partir de microtransações. Seria impensável que uma empresa focada em colocar seus jogos até mesmo em TVs Samsung avaliasse extinguir uma marca que é praticamente sinônimo com o seu principal produto.
Após o lançamento simultâneo do último Halo no PC e no Xbox, além do port da Master Chief Collection para a Steam, é muito mais provável que vejamos Halo Infinite ou um novo Halo multiplayer no PlayStation 5 e no Nintendo Switch 2 do que a morte da franquia no futuro próximo. Se há a necessidade do Xbox de tirar dinheiro de alguns estúdios para investir em outros mais importantes, é bastante provável que parte deste investimento esteja indo para o futuro da franquia que é o rosto do Xbox.
Pode ser que estejamos ainda muitos anos longe da próxima aventura do Master Chief e do novo capítulo da saga que tanto amamos, mas, pelo menos quanto à existência e suporte do multiplayer de Halo, não há nenhum risco à espreita. Halo continuará entre nós por muitos anos.