Halo é inegavelmente uma das maiores franquias da história dos videogames. Popular em diversas regiões do mundo, sua importância para o universo dos jogos vai muito além da campanha: o multiplayer e o cenário competitivo de Halo são alguns dos mais influentes dentro dos e-sports, principalmente quando se trata de jogos em consoles — que, antes de Halo, eram dominados quase exclusivamente por títulos de luta.
O competitivo de Halo foi um dos pilares da antiga MLG (Major League Gaming), uma das organizações mais famosas da história dos esportes eletrônicos. Após a decadência da MLG, os e-sports de Halo foram centralizados pela Halo Studios, atual estúdio responsável pela franquia, com a criação do circuito oficial Halo Championship Series (HCS).
Tanto a parte competitiva quanto o multiplayer casual sempre foram extremamente populares. Além disso, Halo influenciou diretamente na criação de conteúdo sobre videogames, com fenômenos como a webserie Red vs Blue, que surgiu antes mesmo da existência do YouTube.
Porém, esse sucesso nunca se refletiu com força aqui no Brasil. De certa forma, o multiplayer de Halo nunca foi realmente popular por aqui — principalmente quando comparado a outros jogos multiplayer e até mesmo à própria campanha da saga. Este texto busca explorar os motivos por trás disso, com uma análise mais aprofundada e crítica, deixando de lado explicações rasas e equivocadas que circulam pela internet, como a narrativa simplista de que “brasileiro não gosta de jogo futurista”.
O auge da franquia Halo ocorreu na trilogia original, com destaque para Halo: Combat Evolved (2001) e Halo 2 (2004), lançados exclusivamente para o primeiro Xbox. Como é de conhecimento comum, essa geração foi amplamente dominada pelo PlayStation 2, especialmente no Brasil, onde era raríssimo encontrar outro console que não fosse o da Sony.
O Xbox clássico sequer foi lançado oficialmente no Brasil, e isso se aplicava também ao serviço Xbox Live, que não estava disponível em nosso território. Mesmo quem tivesse o console e os jogos — o que já era raro — ainda precisava buscar métodos alternativos para jogar online. Com isso, o mais comum era que as partidas multiplayer fossem locais, em LAN.
Talvez você pense em Halo 3 (2007), que foi lançado para o Xbox 360, console muito mais popular no Brasil. Porém, mesmo nessa época, a Xbox Live ainda não havia chegado oficialmente por aqui, o que mantinha o acesso ao multiplayer online bastante restrito. Ainda assim, foi com Halo 3 que começou a se formar a pequena comunidade brasileira de Halo, com jogadores brasileiros começando a participar de competições internacionais.
O Brasil é um país relativamente afastado dos principais locais onde Halo é mais popular: América do Norte, Europa e Austrália — regiões onde se concentra a maior parte dos jogadores ativos. Como vimos anteriormente, não houve uma formação inicial significativa de público no Brasil. Dessa forma, quem decide jogar Halo por aqui geralmente acaba se conectando com jogadores norte-americanos, o “grande centro” mais próximo. Isso gera problemas de latência e conexão, principalmente nas regiões mais ao sul do país, impactando diretamente o desempenho e dificultando a captação de novos jogadores.
Enquanto enfrentamos esse obstáculo, existem países com histórico semelhante ao nosso com a franquia, como a Colômbia, que por estar mais próxima da América do Norte possui uma conexão melhor com os servidores. Isso gerou para o país um público maior e um melhor desempenho. A Colômbia não é uma superpotência no Halo, mas se tornou um país onde o jogo possui uma boa base, com times e jogadores profissionais que vivem do jogo.
O marketing da franquia Halo no Brasil por muito tempo foi praticamente inexistente. O maior momento de popularidade da série no país só veio no final da geração do Xbox 360, com Halo 4 e a transição para Halo: The Master Chief Collection e Halo 5. Foi nesse período que a marca Xbox começou a se consolidar melhor por aqui, e os exclusivos passaram a ganhar mais atenção.
Mas o marketing de um jogo multiplayer é muito mais complexo que o de uma campanha. Enquanto campanhas precisam de um pico de divulgação próximo ao lançamento, o multiplayer exige uma estratégia contínua, com presença constante para manter a base de jogadores ativa. Isso sempre faltou ao multiplayer de Halo — e, em menor grau, a praticamente todos os jogos multiplayer da Microsoft.
A criação de conteúdo de Halo geralmente só recebe algum incentivo oficial durante os lançamentos. Sabemos que Halo no Brasil nunca foi um fenômeno capaz de transformar criadores em estrelas da internet, como acontece com títulos como Minecraft, Counter-Strike ou Fortnite. Dessa forma, o crescimento da comunidade depende muito mais da iniciativa de criadores que já gostam da franquia, do que de algum empurrão das plataformas oficiais.
Mesmo criadores de conteúdo que se dedicam à plataforma Xbox como um todo — que poderiam ser grandes divulgadores do jogo — geralmente não veem vantagem em produzir conteúdo de Halo fora da campanha. O multiplayer é pouco abordado, não só porque o retorno é baixo, mas também porque, em muitos casos, os próprios criadores não têm interesse no modo. Quantas vezes você já viu um grande youtuber mencionar o multiplayer de Halo? Ou um criador de conteúdo de Xbox organizar jogatinas online?
É importante ressaltar que isso não é uma crítica aos criadores. Ninguém tem a obrigação de fazer conteúdo sobre Halo, ainda mais se não gosta. Mas a responsabilidade de construir uma base de fãs e manter o interesse vivo é, na verdade, das iniciativas oficiais — que muitas vezes são insuficientes.
Desde o fim da HCS de Halo 5 em 2018, o competitivo da franquia ficou sem qualquer tipo de suporte oficial no Brasil. O retorno do circuito HCS com Halo Infinite, em 2021, excluiu o Brasil das regiões participantes, impedindo nossa inclusão em campeonatos e eventos oficiais.
Isso foi um golpe enorme para a comunidade brasileira, que apesar de pequena, estava em crescimento durante a era Halo 5, possivelmente o multiplayer da saga que teve maior sucesso no país. Sem o suporte da HCS, muitos jogadores abandonaram o jogo. Soma-se a isso um lançamento conturbado de Halo Infinite, com problemas técnicos e falta de conteúdo no início, o que impediu a entrada de novos jogadores e desmotivou os antigos.
É muito difícil manter motivação e dedicação em um jogo que não oferece retorno algum, por melhor que você seja. Quando a própria organizadora dos eventos oficiais finge que sua região não existe, fica muito difícil sustentar uma comunidade ativa.
O multiplayer de Halo nunca teve espaço para crescer no Brasil, não por desinteresse natural do público, mas por uma combinação de fatores históricos, técnicos e estruturais. Não pegamos o auge da franquia, não tivemos acesso fácil aos jogos e à rede online, sofremos com problemas de conexão com servidores distantes e nunca fomos tratados como prioridade pelas iniciativas oficiais de e-sports e marketing da marca.
Enquanto outros países conseguiram contornar essas barreiras — muitas vezes com ajuda das questões geográficas — o Brasil ficou para trás. E o pouco que se construiu por aqui, especialmente durante a era Halo 5, foi abandonado pela própria desenvolvedora logo em seguida.
Com falta de incentivo, apoio e visibilidade, o multiplayer de Halo nunca conseguiu passar de um nicho no Brasil. Apesar disso, nós da Halo Project Brasil, faremos de tudo para popularizar o multiplayer desta franquia, se junte a nós nessa jornada. Se nunca experimentou, experimente o multiplayer da franquia. Possuímos grupos públicos, onde você pode encontrar diversas pessoas para jogar e para aprender como melhorar no jogo. Para entrar, basta mandar seu número na DM de nossas redes sociais.